De uns tempos para cá passei a encarar meus desenhos de modelo vivo não só como um estudo, mas como um treino de expressão. A representação fiel de um objeto é importante, mas saber dosá-la para transmitir uma mensagem é igualmente significativo, e o desafio de fazê-lo exige um maior pensamento acerca da imagem. Às vezes a imprecisão diz mais do que o refinamento.
Uso como exemplo meu último desenho de modelo vivo (Carvão sobre papel A1, finalizado em 4 sessões). Além do claro e escuro, procurei opor definição e abstração. A expressão dramática no rosto da modelo sustenta o desenho por si só, então dediquei um maior refinamento da forma para este ponto. Conforme descemos o olhar pela figura, ela esmaece, desaparecendo no caimento do tecido. Esse contraponto, bem como a oposição entre o escuro (face) e o claro (tecido) permite que apenas o rosto da modelo domine a atenção do observador, enquanto os outros elementos dão equilíbrio ao todo.